Bem-vindo ao meu blog!

É tempo de poesia. Aqui você encontrará reflexões sobre meu trabalho com educação de jovens e adultos, fragmentos interessantes de livros, poesia e indicação de leituras e filmes. Enfim, tudo que passou por mim, e pude perceber, ainda que muitas vezes não com a força de todos os sentidos, mas distraidamente, que tem poesia!

NÃO SEI SE A VIDA É CURTA OU LONGA
DEMAIS PARA NÓS
MAS SEI QUE NADA DO QUE VIVEMOS
TEM SENTIDO
SE NÃO TOCARMOS
O CORAÇÃO DAS PESSOAS.
Cora Coralina

FLIP COLETÂNEA

CAMÉLIA DA LIBERDADE



Os alunos da EMEJA Clarice Lispector
estão participando do
concurso de redação
CAMÉLIA DA LIBERDADE.
Para saber mais acesse o site
concursocamelia.portalceap.org.br

PARABÉNS ANA SOUSA PELO PRIMEIRO LUGAR NO CONCURSO CAMÉLIA DA LIBERDADE!

LINDA MENSAGEM

UM MINUTO DE REFLEXÃO...

Hoje, eu queria ser como o Cosmos. Infinito, obscuro, inimaginável... queria estar assim. Sem limites, sem fim, sem preocupações, sem depois...
Eu queria ser como o Infinito. Sem pressa, sem pouso, sem parada... sem sentidos...
Sem dor, sem mágoa, sem lágrima... só imensidão, só vazio, vazio que nenhuma mente humana ousasse imaginar a sua imensidão...
Mas eu sou um ser humano, estou viva, com sentimentos, dores, imaginações, limites, lágrimas... um ser humano que se preocupa, que tem pressa, que se limita em apenas ser um ser humano.
Um ser humano que tem sentimentos bons e ruins, que às vezes falha, que falta a um amigo... um simples e apenas, um ser humano.

ANA SOUSA (Aluna do Clarice Lispector)

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

NÉLIA, tudo começou bem antes de nós... fez-se o silêncio e só escutei a sua voz.

MINHA PÁTRIA É A LÍNGUA PORTUGUESA

MINHA PÁTRIA É A LÍNGUA PORTUGUESA
Fernando Pessoa
SAIBA MAIS SOBRE O POETA PORTUGUÊS http://www.revista.agulha.nom.br/pessoa.html

PROFESSOR

"O caminho que o professor escolheu para aprender foi ensinar. No ato do ensino ele se defronta com as verdadeiras dificuldades, obstáculos reais, concretos, que precisa superar. Nessa situação ele aprende." (Álvaro Vieira Pinto - Sete lições sobre educação de adultos)

FLIP

FLIP

TEXTO LIDO POR VALTER HUGO MÃE NA FLIP (2011)

“Quando eu tinha 8 anos veio morar para a casa ao lado da dos meus pais um casal de brasileiros com duas filhas moças. Ao chegar, o casal ofereceu uma ambulância ao quartel de bombeiros da nossa vila e toda a vila se emocionou. Foram os primeiros brasileiros que eu vi fora da tv, fora das novelas. Eu e os meus amigos fomos ao quartel dos bombeiros apreciar a ambulância nova, bem pintada, que se mostrava a todos como prova bonita da bondade de alguém. O meu pai tinha um carro pequeno, velho, difícil de levar a família inteira dentro. A ambulância era enorme, um luxo, como se fosse para transportar doentes felizes. Eu e os meus amigos ficamos estupefactamente felizes.


Depois, algumas mulheres e alguns homens mais delicados reuniam-se diante da senhora e das moças brasileiras e faziam perguntas sobre as novelas. Naquele tempo, passavam com muito atraso em relação ao Brasil, e todos queriam saber avidamente quem casava com quem na Gabriela.

A senhora e as suas duas filhas, porque sabiam o que ia acontecer nas novelas, eram aos olhos de todos como adivinhas, gente que via coisas do futuro, gente que viveu o futuro e que se juntou a nós para reviver o passado. Por causa disto, eram mágicas e as pessoas queriam a opinião delas para cada decisão.


A minha mãe pediu à nova vizinha a receita para fazer pizza, porque ainda não havia pizzarias e só víamos nas revistas como deviam ser bonitos e saborosos aqueles círculos de pão e queijo coloridos pousados nas mesas. Passámos a comer uma pizza de atum com muitas azeitonas pretas. Ainda hoje peço nos restaurantes pizza de atum com a esperança de que seja exactamente igual à da minha infância, mas nunca é.


As moças brasileiras eram mais velhas do que eu e ficaram amigas das minhas irmãs. As minhas irmãs saíam com elas à rua inchadas de orgulho, porque as pessoas todas, sempre comovidas com a ambulância, fazia vénia e sorriam. Havia gente que dizia que as moças brasileiras eram as mais belas de todas. Elas eram, na verdade, sorridentes, e eu senti que também seriam muito felizes na nossa pequena vila.


Um dia a minha imã mais velha fez anos e foi festejá-los com uma festa na garagem das brasileiras. Na noite desse dia, ali pelas oito horas, uma outra menina, filha de um vizinho português, mostrou-me tudo. Não foi a primeira vez, mas eu queria sempre ver, embora ela não quisesse sempre mostrar. Um amigo meu surpreendeu-nos e quis ver também, mas a menina respondeu que não. Ela disse que mostrava apenas a mim porque eu era amigo das brasileiras. Entendi que as brasileiras eram como um toque de Midas que me transformava num menino de ouro.


Aos dezoito, aquele que é o meu amigo mais irmão chegou do Brasil e ingressou na minha escola. Eu instintivamente corri atrás dele. Queria ser amigo dele como se fosse vital para mim. Ele mostrou-me Titãs e Legião Urbana. Eu achava que o Renato Russo ia salvar a minha vida com aquela canção do Tempo perdido. Quando o Renato Russo morreu, chorei muito e passei só a chorar quando ouço o Tempo perdido. Eu não sei se a arte nos deve salvar, mas tenho a certeza de que pode conduzir ao melhor que há em nós, para que não nos desperdicemos na vida.


O Alexandre, esse meu amigo brasileiro, mudou tudo em mim para melhor. Adorava viajar de comboio com ele quando entalávamos as meias mal cheirosas nas janelas para que arejassem durante a marcha. Nesse tempo, o Alexandre ensinou-me a perder aquela vergonha que só atrapalha. Porque os portugueses sempre foram meio envergonhados.

Hoje, temos quase quarenta anos, ele casou com uma portuguesa e tem filhos. Eu, não. Fiquei para tio a escrever romances, e os romances tornaram-se fundamentais na minha vida, como a máquina de fazer espanhóis. Sonhei sempre em vir ao Brasil e vim várias vezes, faltava vir como escritor, publicado e recebido. Pois aqui estou, a Flip fez isso, não esquecerei nunca, sinto que fazem de mim um homem de ouro, agradeço a todos muito por isso.”

MENSAGEM PARA OS MEUS ALUNOS

SONHO IMPOSSÍVEL

Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite provável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar este mundo, cravar este chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu
Delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão

(Joe Darion e Mitch Leigh / versão em português de Chico Buarque e Ruy Guerra)




DO TEXTO AO CONTEXTO

A POESIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: DO TEXTO AO CONTEXTO Maria Irene Bezerra Lenharo - E.M.E.J.A. Clarice Lispector Roseli Aparecida Soares Felisberto - E.M.E.J.A. Clarice Lispector POESIA E PROSA JOSÉ PAULO PAES Pode-se escrever em prosa ou em verso. Quando se escreve em prosa, a gente enche a linha do caderno até o fim, antes de passar para a outra linha. E assim por diante até o fim da página. Em poesia não: a gente muda de linha antes do fim, deixando um espaço em branco antes de ir para a linha seguinte. Essas linhas incompletas se chamam de versos. Acho que o espaço em branco é para o leitor poder ficar pensando. Pensando bem no que o poeta acabou de dizer. Algumas vezes, lendo um verso, a gente tem de voltar aos versos de trás para entender melhor o que ele quer dizer. Principalmente quando há uma rima, isto é, uma palavra com o mesmo som de outra lida há pouco. Então a gente vai procurá-la para ver se é isso mesmo. A prosa é como trem, vai sempre em frente. A poesia é como o pêndulo dos relógios de parede de antigamente, que ficava balançando de um lado para outro. Embora balançasse sempre no mesmo lugar, o pêndulo não marcava sempre a mesma hora. Avançava de minuto a minuto, registrando a passagem das horas: 1, 2, 3, até 12. Também a poesia vai marcando, na passagem da vida, cada minuto importante dela. De tanto ir e vir de um verso a outro, de uma rima a outra, a gente acaba decorando um poema e guardando-o na memória. E quando vê acontecer alguma coisa parecida com um poema que já leu, a gente logo se recorda dele. Geralmente, a prosa entra por um ouvido e sai pelo outro. A poesia, não: entra pelo ouvido e fica no coração. A POESIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS “A poesia — é só abrir os olhos e ver — tem tudo a ver com tudo.” “A poesia Tem Tudo a Ver” Com Alfabetização - a descoberta das letras - a relação som e letra - a leitura e escrita das palavras - a elaboração dos seus significados - a descoberta das primeiras rimas - a percepção da melodia e o ritmo a cada verso lido - a leitura na escola e fora dela - o direito de aprender - e o exercício pleno da cidadania “A poesia Tem Tudo a Ver” Com Letramento - a apropriação da leitura e da escrita - a compreensão das múltiplas linguagens - a descoberta da magia dos livros - o despertar do sonho, da imaginação, do encantamento, do sentido das palavras, dos sentimentos e da sensibilidade. - o direito à leitura compromissada com o prazer e de exercer os direitos como leitor - a leitura crítica do mundo - e o fortalecimento da própria identidade “A poesia Tem Tudo a Ver” Com Leitura de mundo - as vivências e experiências pessoais - o conhecimento que cada um traz - a valorização dos saberes dos alunos pela escola - a descoberta de si mesmo nos poemas - a relação entre a poesia, a vida e o mundo - a ampliação da leitura de mundo - e o ser humano em toda a sua dimensão Projeto: Do texto ao contexto COISAS DE OUTROS TEMPOS CIDA MEIRA TALVEZ SEU AMIGO PARTA PEÇA QUE LHE ESCREVA UMA CARTA QUERO QUE ME DIGA AONDE POSSO ANDAR DE BONDE UMA MÚSICA GOSTOSA ROLA AO SOM DE UMA VITROLA HÁ TEMPOS QUE NÃO SE VÊ MAIS UM LINDO LAMPIÃO A GÁS VIVE FALANDO O SEU NOEL DO TEMPO EM QUE SE USAVA CHAPÉU VIVE FALANDO AQUELA MULHER VIÚVA DE QUANDO SE USAVAM LUVAS POUCA GENTE AINDA FALA COMO ERA ELEGANTE USAR BENGALA ERA DIVERTIDO DE FATO IR À PRAÇA E TIRAR RETRATO DIVERTIDAS À LUZ DA LUA ERAM AS BRINCADEIRAS DE RUA POESIA: DO TEXTO AO CONTEXTO Projeto desenvolvido tendo como base o livro "Coisas de outros tempos" da autora Cida Meira, em duas salas de Fase – 1 da Escola Municipal de Educação de Jovens e Adultos Clarice Lispector, nos meses de abril, maio e junho de 2004. As salas são formadas por alunos na faixa etária entre 18 e 80 anos que freqüentam as aulas no período da tarde, das 13h às 16h30 e noite, das 18:30 às 22:00. JUSTIFICATIVA O desenvolvimento da leitura só pode acontecer através do constante ato de ler. A poesia em sala de aula convida o aluno a ir além da simples leitura, promove a reflexão, a descoberta de sentido nas palavras e a percepção da leitura como fonte de prazer. OBJETIVOS Desenvolver o gosto pela leitura; Ler para os alunos e com os alunos; Motivar a descoberta da magia dos livros; Ampliar a visão do mundo da leitura; Desenvolver a habilidade de leitura de poemas; Compreender a diferença entre prosa e poesia; Descobrir sentidos nas palavras e as possibilidades de interpretação; Ler em voz alta; Observar a estrutura dos poemas; Descobrir as rimas, perceber ritmo e melodia; Estabelecer relações entre texto e contexto; Compreender e utilizar outras linguagens como forma de expressão; Elevar a auto-estima. ÁREAS ENVOLVIDAS Português, História, Geografia e Artes RECURSOS UTILIZADOS Livros de poesias Jornais Revistas Letras de músicas AÇÕES Leitura do poema "Coisas de outros tempos" de Cida Meira; Leitura e escrita do poema; Leitura e escrita das palavras que a autora cita com "coisas de outros tempos"; Observação da estrutura: versos, rimas e estrofes; Lista de "coisas de outros tempos" lembradas pelos alunos; Produção de texto sobre "coisas de outros tempos" lembradas com saudades; Criação de um livro "coisas de outros tempos" com recortes, colagem e desenhos; Conhecer a autora do livro; Produção de texto de avaliação do trabalho; Escrita de um texto em prosa (carta) contando sobre o trabalho com poesia. RESULTADO DAS AÇÕES Durante a realização do projeto os alunos comentavam que possuíam os objetos que a autora citava no poema e também outras "coisas" como: dinheiro antigo, discos de vinil, cigarro de palha, lamparina e pilão. Outros alunos relataram que sentiam saudades dos brinquedos que eles mesmos faziam para brincar e resolveram relembrar esse tempo. A aluna Deolinda fez uma boneca de pano, a Sabrina fez uma bola de meia e o aluno Juraci um carro de boi. Para encerrar o projeto, surgiu a idéia de realizarmos uma exposição não só dos trabalhos escritos mas também dos objetos e mostrar para toda escola, e produzirmos também um outro livro que os alunos decidiram dar o título de "Nossas Lembranças". AVALIAÇÃO - O desenvolvimento da leitura teve um avanço significativo. - A confiança na capacidade de aprender a ler foi reforçada quando descobriram que a poesia era um livro e, sendo assim, tinham conseguido ler um livro inteiro. - Os alunos ficaram surpresos e felizes ao descobrirem que a autora do livro, Cida Meira, é professora de Português de nossa escola. - Conversar com a autora do livro, conhecer um pouco de sua trajetória como escritora, foi um momento emocionante e inesquecível para todos. - Os alunos, durante a realização do projeto, partilharam com o grupo vivências e experiências pessoais que enriqueceram o trabalho. - As habilidades e competências foram valorizadas. A boneca de Dona Deolinda fez tanto sucesso que agora ela está fazendo as bonecas para vender. - A participação e o envolvimento dos alunos foi o ponto alto da realização do projeto. - A auto-estima foi elevada pela certeza de estarem inseridos no fazer pedagógico. - A relação professor-aluno foi reforçada pelos laços de afeto desenvolvidos. Tem Tudo a Ver Elias José A poesia tem tudo a ver com tua dor e alegrias, com as cores, as formas, os cheiros, os sabores e a música do mundo. A poesia tem tudo a ver com o sorriso da criança, o diálogo dos namorados, as lágrimas diante da morte, os olhos pedindo pão. A poesia tem tudo a ver com a plumagem, o vôo e o canto, a veloz acrobacia dos peixes, as cores todas do arco-íris, o ritmo dos rios e cachoeiras, o brilho da lua, do sol e das estrelas, a explosão em verde, em flores e frutos. A poesia — é só abrir os olhos e ver — tem tudo a ver com tudo. In: JOSÉ, Elias. Segredinho de amor. Il. May Shuravel. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1991. p.6. (Girassol) Referência Bibliográfica JOSÉ, Elias. Segredinho de amor Il. São Paulo : Moderna, 1991. MEIRA, Cida. Coisas de outros tempos. São Paulo : Editora Ícone, 2003. PAES, José Paulo. Vejam como eu sei escrever. São Paulo : Ática, 2003. Bibliografia GEBARA, Ana Elvira Luciano. A poesia na sala de aula: leitura e análise de poesia para crianças. São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção aprender e ensinar com textos, v. 10) RIBEIRO, Vera Masagão. Letramento no Brasil. São Paulo: Global, 2003. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. Voltar

ORGULHO / Cida Meira

Mauá, o que posso falar de você
Se a voz não quer sair

Cavo lembranças doces da infância amarga
Não de uma amargura sem sonhos,
Mas de uma amargura sem orgulho.
Não triste,
Mas de uma amargura cabisbaixa.
De seu nome sussurrado.
(Suas ilustres vizinhas poderiam escutar).

Seu nome indígena tem história.
Você é orgulhosa, tem até nome de barão.
Construída por muitas mãos.
Eu e que não me sinto à vontade.
Meus ancestrais foram passando aqui e acolá,
Tendo filhos...
Nasci aqui. (Tanto lugar no mundo).

O Macuco, a olaria, o tancão, a horta do japonês, o asilo,
Depois o Ezilda.
E tudo foi mudando,
Crescendo,
Desconhecendo-se.

Também sou durona como você.
Vou conquistando um lugarzinho.(Tem lugar pra todo mundo).
E não é que estamos fazendo história!
Também damos a nossa contribuição.
Amor-próprio é coisa que se demora a conquistar.

Busco nos livros, nos álbuns, nas lembranças,
Nas conversas com os que já foram,
Um tiquinho que seja:
Da minha / da nossa presença.
E acho, Mauá.
Nem só as imensidades são importantes.
Aprenda, Mauá.
Comemos muitas frutas amargas,
Colhidas no mato passado.
Plantamos algumas sementes
Que já estão nascendo.
Orgulhosas.

1997

LÍNGUA PORTUGUESA / PRODUÇÃO DE TEXTOS GÊNERO - MEMÓRIAS

"A vida não é a que a gente viveu
e sim a que a gente recorda,
e como recorda para contá-la." (Gabriel Garcia Marquez. Viver para contar)

As memórias recuperam uma época com base em lembranças pessoais. Despertam, no leitor, emoções por meio da beleza e da profundidade palavra.
Objetos e fotografias recuperam a história de um tempo passado, de um momento marcante. Conversar com os idosos também é uma ótima oportunidade para enriquecer e reacender as nossas memórias adormecidas.
As memórias podem falar sobre vários aspectos: o modo de vida das pessoas, como era a escola, as brincadeiras da infância, a transformação da cidade ou do lugar, as festividades, os episódios pitorescos ou os acontecimentos marcantes.
Trazer à lembrança sensações, impressões e informações captadas pelos nossos sentidos: cheiros, sabores, formas, cores, texturas, sons.
A descrição pode ser utilizada como recurso para envolver o leitor e aproximá-lo ainda mais da experiência trazida pelo autor do texto.



A ponte

"A vida só é possível reinventada." Parece que o verso de Cecília Meireles é a epígrafe da minha vida. Nasci numa casa em que a dose excessiva de melancolia de minha mãe e o abuso de autoridade paterna sufocavam os mais jovens. Mesmo a autoridade silenciosa como a de meu pai. A rotina de opressão e melancolia só era interrompida quando minhas duas amigas e eu íamos brincar no milharal com bonecas de sabugo ou no quintal de sua casa sob os pés das amoreiras. Brincávamos horas sob o sol da tarde, numa fuga constante da realidade. Meu pai não era ruim nem violento. Apenas o álcool turvava o seu caráter. Ou, quem sabe, revelava-lhe. Sentia uma angústia ao vê-lo derrotado pelo inimigo. Trago lembranças de minha mãe lavando roupas. Trouxas intermináveis de roupas a serem lavadas, estendidas, recolhidas, passadas, usadas e novamente lavadas, estendidas, recolhidas,usadas,passadas. No entanto era no sol, junto ao milharal que criávamos um mundo à parte. Um mundo alegre, incrível, com todas as possibilidades. O pai de minhas amigas era um homem autoritário e violento. Mas, ainda assim, as invejava. Naquela época não distinguia bem as coisas. Não reconhecia a bondade rústica de meu pai. Admirava aquele homem forte, alto, de farda (em oposição à figura frágil de meu pai), que comia sozinho à mesa. As filhas e a mãe comiam num quarto junto à cozinha, longe dos olhos do pai. A esposa sempre que podia poupava aborrecimentos ao marido. Mas naquele dia não foi possível.
A casa de minhas amigas ficava defronte a minha. O terreno era grande, em dois níveis. A casa ficava numa parte baixa e o quintal se estendia numa parte bem alta do terreno que fora cortado, formando um muro de quase sete metros de altura. O acesso para esta parte do quintal era pela lateral da casa. Brincávamos, distraídas, não percebemos que estávamos bem na ponte desta muralha. Minha amiga mais nova, sem que esperássemos, perdeu o equilíbrio e caiu na parte mais baixa do quintal, desmaiando. Nós duas olhávamos, apavoradas, a menina estendida no chão. Foram gritos e lágrimas. A mãe correu para socorrer a filha. O pai que estava de folga neste dia gritou para que descêssemos. Enquanto espancava a filha mais velha, olhou para mim furioso e vociferou para que sumisse dali. Corri, assustada, para casa sem saber o que acontecera a minha amiga que caíra e a que apanhara sem motivo. Durante alguns dias fiquei sem saber notícias delas. Também não apareceram mais na escola. Depois soube que iriam se mudar para o interior. No período em que estivemos afastadas, comecei a ensaiar uma peça teatral na escola onde tive uma pequena participação. A peça se chamava "Planeta dos Palhaços". No dia da estreia, vieram me avisar que elas iriam partir e queriam se despedir. Não pude ir. A peça ia começar. Meu pai morreu num acidente de trabalho numa madrugada fria se me falar de seus sonhos. Nem tive tempo de conhecê-lo direito. O pai delas morreu num acidente de carro, na cidade escolhida por ele por achar que seria um bom lugar para criar as filhas. Uma ponte, construída pelas crianças, liga a minha casa à casa de minhas amigas. Desta forma dávamos existência a um mundo paralelo. Única forma de manter a sanidade. Longe do mundo dos adultos, e suas perseguições, angústias e medos. Apenas nós conseguíamos cruzá-la. A final dela havia castelos, espaçonaves, florestas encantadas, muitos brinquedos inventados. Numa manhã dolorosa, acordei e corri para a ponte. Havia sido destruída. A vida é tecida por linhas tênues, frágeis. A vida é inesperada.

Cida Meira

Às vezes pergunto-me se certas recordações são realmente minhas, se não serão mais do que lembranças alheias de episódios de que eu tivesse sido actor inconsciente e dos quais só mais tarde vim a ter conhecimento por me terem sido narrados por pessoas que neles houvessem estado presentes, se é que não falariam, também elas, por terem ouvido contar a outras pessoas. (José Saramago - Pequenas memórias)

A primeira coisa que guardei na memória foi um vaso de louça vidrada, cheio de pitombas, escondido atrás de uma porta. Ignoro onde o vi, quando o vi, e se uma parte do caso remoto não desaguasse noutro posterior, julgá-lo-ia sonho. Talvez nem recorde bem do vaso: é possível que a imagem, brilhante e esguia, permaneça por eu a ter comunicado a pessoas que a confirmaram. (Graciliano Ramos - Infância)


Casa de Cora Coralina / Goiás

Casa de Cora Coralina / Goiás

MEMÓRIAS

MEMÓRIAS
Cora Coralina
Antiguidades (Cora Coralina)

Quando eu era menina
bem pequena,
em nossa casa,
certos dias da semana
se fazia um bolo,
assado na panela
com um testo de borralho em cima.

Era um bolo econômico,
como tudo, antigamente.
Pesado, grosso, pastoso.
(Por sinal que muito ruim.)

Eu era menina em crescimento.
Gulosa,
Abria os olhos para aquele bolo
que me parecia tão bom
e tão gostoso.

A gente mandona lá de casa
cortava aquele bolo
com importância.
Com atenção. Sinceramente.
Eu presente.
Com vontade de comer o bolo todo.

Era só olhos e boca e desejo
daquele bolo inteiro.

Minha irmã mais velha
Governava. Regrava.
Me dava uma fatia,
tão fina, tão delgada...
E fatias iguais às outras manas.
E que ninguém pedisse mais!
E o bolo inteiro,
quase intangível,
se guardava bem guardado,
com cuidado,
num armário, alto, fechado,
impossível.
Era aquilo, uma coisa de respeito.
Não pra ser comido
assim, sem mais nem menos.
Destinava-se às visitas da noite,
certas ou imprevistas.
Detestada da meninada.
(...)

Aquela gente antiga,
passadiça, era assim:
severa, ralhadeira.

Não poupava as crianças.
Mas, as visitas...
-Valha-me Deus!...
As visitas...
Como eram queridas,
recebidas, estimadas,
conceituadas, agradadas!
(...)

Eu fazia força de ficar acordada
esperando a descida certa
do bolo
encerrado no armário alto.
E quando este aparecia,
vencida pelo sono já dormia.

E sonhava com o imenso armário
cheio de grandes bolos
ao meu alcance.

De manhã cedo
quando acordava,
estremunhada,
com a boca amarga,
-ai de mim-
via com tristeza,
sobre a mesa:
xícaras sujas de café,
pontas queimadas de cigarro.
O prato vazio, onde esteve o bolo,
e um cheiro enjoado de rapé.





memórias

memórias

PRODUÇÃO TEXTUAL

GESTAR II – PROGRAMA GESTÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR EMEJA CLARICE LISPECTOR GÊNERO TEXTUAL – MEMÓRIAS

5ª SÉRIE A

Uma criança ensinando um adulto Lembrança maravilhosa. Sempre que tenho oportunidade, digo que foi uma surpresa inesquecível. Estava eu no portão de casa onde morava com os meus pais aguardando a chegada da minha querida namorada. Estava preocupado e inquieto, pois já havia passado muito tempo do horário em que tínhamos marcado o nosso encontro. Olhei novamente no relógio, dez horas. “Será que ela não vai vir mais?” Perguntei- -me. Depois de mais alguns minutos, olhei novamente na direção onde ela deveria aparecer e lá estava ela, formosa como sempre. Usava um lindo vestido cor de vinho e calçava belos sapatos pretos, seus cabelos estavam presos e isto me ajudou a perceber, mesmo estando ela um pouco distante de mim, uma expressão diferente no seu rosto. Não estava vindo ao meu encontro com aquele sorriso que sempre dava ao me ver. Quando ela se aproximou, sem mesmo antes de lhe dar um beijo, fui logo perguntando: - O que está acontecendo? - Por quê? Respondeu ela. – Você está diferente. Disse a ela. - Eu não estou triste. É que tenho algo a lhe dizer e não sei qual vai ser a sua reação. Confesso que fiquei tenso, pois pensei que ela ia colocar um fim no nosso relacionamento, mas, mesmo amedrontado, perguntei: - O que é? Pode falar. Ela fitou-me nos olhos e disse: - É que estou grávida! Fiquei tão surpreendido que ela até mesmo pensou que eu não tinha gostado daquela maravilhosa notícia. Após eu ter explicado a ela o quanto eu estava feliz com aquela notícia, começamos a fazer planos, muitos planos, de que forma iríamos dar a notícia aos nossos familiares, como iríamos construir um lar, que nome iríamos dar à criança. Eram tantos planos que eles se misturavam em nossas mentes. Eu trabalhava, mas como a maioria dos jovens, era um tanto irresponsável. Porém aquela criança, mesmo estando ainda no ventre da mãe,me ensinou a ter responsabilidade e graças a Deus e às pessoas amorosas que nos ajudaram, conseguimos construir o nosso lar. Hoje esta criança está com dezoito anos de vida e, juntamente com minha esposa, continua me ensinando. Jorge da Silva Alves
Um anjo de irmã Tudo começou na década de 80, quando eu tinha pouco menos de seis anos. Nesta época, eu era a décima filha e a caçula da família, logo depois chegaram mais dois irmãos. Diante desta situação, pouco tempo tinham meus pais para nos dar atenção necessária, pois havia muitos filhos para cuidar. Acredito que Deus existe e jamais deixa seus filhos desamparados. E neste momento preparou uma pessoa maravilhosa, que amava muito as crianças e colocou em meu caminho. Ela tornou-se um anjo em minha vida, no momento em que tanto precisava, supria minhas carências afetivas, enchendo-me de carinho e atenção. Algumas vezes sentia-me confusa e acabava chamando-a de mãe. Eu achava tão importante sua presença que acabava adormecendo em sua cama, sentindo seu cheiro e esperando por sua volta do serviço já tarde da noite. Quando eu acordava no meio da madrugada, deparava-me com ela adormecida e meu travesseiro cheio de guloseimas. Eu ficava muito feliz, pois sentia que tomara tal atitude só para me agradar. Sei que para muitos pode parecer besteira, mas para mim tem muito valor, vale como um tesouro guardado dentro de meu peito, um valor sentimental. Pois faz parte de minha vida. Sempre que possível, ela me levava para passear em lugares que eu, quando criança, gostava muito. Ainda guardo em minhas lembranças, os dias em que ela me levava para ver os patinhos que se encontravam nos lagos da prefeitura de Santo André, cidade onde nasci e cresci. Também íamos jogar moedinhas para os peixinhos em um quintal no centro da cidade. Dentre esses, existiram outros mais momentos maravilhosos que passamos juntas, nos divertindo a valer. Sei que esses momentos jamais voltarão. Mas guardarei para sempre, em minha memória, com muito carinho. Presto aqui minha singela homenagem a minha querida irmã Rosangela que Deus levou para junto de Si em janeiro deste ano de 2009. Aos 47 anos, foi morar com Deus. Deixando-nos muitas saudades. E tornando-se assim um “anjo” lá no céu. Ana Paula M. da Silva
Lembranças Meu nome é Jerônimo, tenho 25 anos, sou uma pessoa alegre e gosto muito de esporte. O que ficou na minha lembrança era quando eu ia jogar bola com os colegas. Era muito bom, porque nós éramos pessoas muito unidas e nós saíamos para outras cidades. Conhecíamos novas pessoas e fazíamos amizades novas. Outra coisa que ficou marcada na minha lembrança foi quando eu fui para Salvador pela primeira vez. Quando cheguei lá, foi muito bom porque eu fui à praia, tomei banho no mar, fui no elevador Lacerda, passeei no zoológico, vi animais que eu nunca tinha visto e depois fui para o porto, andei de navio. Foi uma viagem que marcou minha vida porque eu conheci coisas novas que ficaram na minha lembrança. Também teve outra coisa que ficou marcada na minha lembrança. Foi quando minha irmã foi para a Bahia e me trouxe para São Paulo. Graças a Deus, eu tive a oportunidade de arrumar um emprego para alcançar meus objetivos. Entre eles, voltar a estudar para ter melhores oportunidades no mercado de trabalho. Até porque o estudo é muito favorável em nossas vidas. Jerônimo Conceição Cruz Oliveira
O galo e a galinha Houve um tempo em que eu trabalhei em um mercado e tinha muitos colegas. Certo dia uma colega de trabalho me deu de presente um casal de pintinho: um galo e uma galinha de cor vermelha. Tudo bem, poderia criar pois estava trabalhando e tinha condições. Fui eu toda contente com os bichinhos na caixinha para casa. Criei-os. O galo vermelho estava bonito e a galinha também. Até que um dia, o galo resolveu subir no telhado de casa para o telhado do vizinho. Desde este dia não voltou mais. Descobrimos que o vizinho tinha colocado o galo na panela, quer dizer, comeu o galo. Eu e meus filhos ficamos muito tristes. Falei para minha mãe, pois ela criava galos e galinhas. Ela me deu um lindo e forte galo branco. Meu irmão levou-o para mim. Passando um tempo, fiquei desempregada e não tive mais condições de criá-los. Ofereci aqui mesmo na escola Emeja Clarice, na classe de 4ª série para meu colega Maviel que comprou a galinha e o galo e levou-os para uma chácara. Fiquei bem mais tranquila. Esta foi a história que realmente aconteceu em minha vida de verdade. Lucineia Angela de Aquino
Minha infância Quando eu era criança, me lembro das bonitas manhãs e gostosas tardes em que eu e meu irmão brincávamos no sítio em Piracaia, interior de São Paulo. As brincadeiras de que eu mais gostava eram jogar bola, andar de cavalo, brincar de pega-pega, esconde-esconde, cobra-cega e outras brincadeiras que infelizmente, hoje em dia, as crianças não sabem o que é aproveitar os melhores anos da vida. Pena que, por volta dos meus onze anos, eu tinha de trabalhar, interrompendo minha infância. Felizmente para sermos criança, não é preciso ter nem mais nem menos idade. Só é necessário ter espírito, boas lembranças e crianças por perto. Que bom ser criança. Ainda bem que tenho lindos sobrinhos em minha terra natal. Sempre que tenho saudade dos meus sobrinhos, vou visitá-los e aproveito para ser criança de novo, pois corro com eles pelo sítio e brinco até a hora de eu ter de voltar para casa e deixar de ser criança. Quando possível, volto a me encontrar com os melhores anos de minha maravilhosa vida. Adriana A. de Faria
Tempo de criança Eu nasci em Missão Velha no Ceará mas menino fui morar no Sítio Canjica. Gostava de brincar com os filhos do patrão do meu pai. Nós brincávamos no açude de pega-pega e também gostava de pescar com landuá, espécie de rede. Certa vez meu pai pediu para buscar água para ele na cacimba com uma cabaça. Como era muito pequeno, caí dentro da cacimba. Quase morri afogado. Meu pai percebeu que eu estava demorando, foi lá e me salvou da morte. Depois que o susto passou, ainda brigou comigo. Ainda tenho saudade do tempo de criança. José Leonel da Silva

5ª SÉRIE B

Ana Luísa Eu me chamo Norma. Vou contar um pouquinho da minha história. Aos meus quinze anos, tive de parar os meus estudos. O motivo foi uma gravidez indesejada. Só que hoje eu agradeço a Deus por ter me dado um filho tão maravilhoso que se chama Marcelo Tayan que está com dezoito anos, um filho estudioso e dedicado. Vim a me separar do pai dele quando estava com três anos de vida. Tive de sustentá-lo com a ajuda da minha mãe que hoje não está mais entre a gente. Casei-me novamente com uma pessoa que me deu a Ana Luísa. Minha gravidez foi uma gravidez de alto risco. Fiquei em observação alguns dias. Ela veio a nascer com seis meses de gestação, nasceu apenas com um quilo. Ficou internada por um mês. Os médicos só me deram alta quando ela estava cem por cento boa. Quando minha filha fez três anos, perdi o grande amor da minha vida. Acredito que Deus está comigo e ele não irá me abandonar. Acredito no poder de Deus porque ele é maravilhoso. Norma Lúcia Souza
Um dia especial 29 de maio de 2006. Nunca me esqueço deste dia. Foi muito especial. A não ser por um problema de saúde que eu tive no coração, não tenho histórias tristes para contar. Minha infância foi boa, eu era filha única e achava que mandava e que era dona do mundo. Vivi quatorze anos sem ter alguém a quem um dia eu pudesse aconselhar, dar carinho, na verdade, sentia falta de um irmão. Minha mãe sempre quis engravidar e eu me lembro que um dia uma coleguinha me falou que eu iria ser sozinha no mundo, porque eu não tinha irmãos. Contei para minha mãe que ficou muito triste. Ela até engravidou, mas depois de quatro tentativas frustradas. Finalmente no dia 29 de maio de 2006, em seus 36 anos de idade, nasceu uma linda bebê. Eu mal conseguia acreditar, eu tinha uma irmãzinha!!! Nasceu linda, saudável e hoje está com três anos. Ela é terrível, muito inteligente, um pouco mimada. Eu, meu pai e minha irmã estamos ensinando a ela o que é certo e o que é errado. E não parou por aí! Ainda tenho mais uma irmã de um ano. Demorou mas, quando veio, foram logo duas em seguida! Enfim, o dia 29 de maio para mim foi muito importante, mais do que isso, foi especial. Talita Garcia de Lima Santos
História da vida A minha vida é a seguinte. Eu morava com minha avó na Bahia. Desde pequena ela me criou e também criou minhas três irmãs. Os meus pais foram embora quando eu tinha um ano e três meses. Até hoje eu não conheço os meus pais. Mas hoje me sinto feliz. Eu amo muito a minha avó e as minhas irmãs, duas são cegas. Se não fosse minha avó, eu nem sei onde estaria. Eu vim morar em São Paulo com a minha tia mas ela me maltratava muito. Meu outro tio me chamou para morar com ele. Agora, sim, eu sou feliz. Morando com meu outro tio, a minha vida foi muito triste. Sem mãe, sem pai, querendo um abraço, um carinho de mãe e de pai. Não acho isso que eu tanto queria ter, mas mesmo assim eu quero terminar os meus estudos para poder trabalhar e poder ajudar a minha avó que me criou com amor. Eu quero me formar para poder ajudá-la. Nunca tive nada de bom e do melhor, mas, assim que eu começar a trabalhar, eu quero ajudá-la. Ela me deu o que pôde. Sempre amei e amo todos da minha família. Glécia Miranda Santos
O sítio onde nasci Poço do Serrote, este é o nome do sítio onde nasci. Fica no município de Nazarezinho, estado da Paraíba, distante uns 6 km da cidade. Foi lá que vivi a minha infância, adolescência e juventude. Neste sítio, habitavam umas vinte famílias. Todos parentes bem próximos. Éramos uma comunidade pobre. Noventa por cento das casas eram feitas de barro, não tinha conforto, nem alimentação saudável, mas éramos felizes naquele sítio! Meus pais tinham seis filhos: cinco homens e uma mulher. Eu era o terceiro filho da família. Meu irmão mais velho estudava na cidade com ajuda de um tio que morava em Brasília. Nós continuávamos morando na roça, sem estudar. A vida no sítio era assim: nós nos levantávamos às seis horas da manhã, um ia tirar o leite da vaca, outro buscar água no açude para encher os potes e outro ia moer milho para fazer o pão para tomar o café da manhã. Depois íamos para a roça e só voltávamos às dezessete horas, o almoço era na roça. Quando chegávamos, tomávamos banho, vestíamos uma roupa limpa e íamos para casa dos vzinhos, ou eles vinham para nossa casa. Ali juntávamos uns vinte meninos e meninas, entre nove e quinze anos, e começávamos a brincar de roda, passar anel e cair no poço. Nos domingos, feriados ou dias santos, nós ficávamos à vontade para brincar, tomar banho no açude e riachos, brincar de pega-pega, de cavalo-de-pau e jogar bola. Tempo que não volta mais. A sociedade mudou com a chegada da energia elétrica no sítio e a televisão em todos os lares, não mais se vêem garotos e garotas brincando. Chega a noite, e lá estão eles dentro de casa, porta fechada assistindo televisão. Quero registrar neste texto de memórias, que os adolescentes de hoje não são felizes como nós éramos felizes, não tinha drogas, violência, nem maldade nos corações, assim vivíamos nós: livres e felizes da vida. Mas o tempo foi passando. Os que iam fazendo dezoito anos viajavam para São Paulo para procurar emprego. Muitas famílias também se mudaram para a cidade. Aquele sítio habitado por um povo tão feliz foi ficando deserto, as casas foram ficando vazias e abandonadas. Por fim, também viajei para Brasília, em setembro de 1990. De lá vim para São Paulo. A minha mãe também se mudou para um sítio próximo chamado Timbaúba, onde mora até hoje. Em 2006, fui visitar minha mãe, e fui ao sítio onde nasci. Que surpresa tive eu! Não dava para acreditar! Só existem três famílias morando lá. A casa onde nasci não existe mais, a dos meus amigos também não. Só resta a memória de um sítio que nunca mais será o mesmo. Paulo Gomes Pedrosa
Lembrança de minha infância Às vezes me pego a pensar nas visitas que eu, meus pais e meus irmãos fazíamos a meus avós e meus tios em Minas Gerais. Levantávamos cedinho, ainda noite, e lá íamos nós para a rodoviária. Pegar o ônibus era uma festa. Quando ele encostava na plataforma, o coração saltava pela boca de tanta felicidade. Era só alegria! Daí então, vinha a parada no caminho. Descer e tomar um lanche. Era tudo tão lindo e bom! Lembro que o ônibus passava pela estrada que cortava a fazenda de meus avós, então descíamos praticamente na porteira da fazenda. Ainda dentro do ônibus, nossos olhos brilhavam de alegria e o coração quase saía pela boca de tanto que batia ao avistar de longe, minha avó e meu tio nos esperando à beira da estrada. Quando finalmente chegávamos e descíamos do ônibus, era aquela confusão. Pegar as malas, cumprimentos, abraços, beijos... E parecia que todo tempo do mundo era pouco para tanta saudade. Por fim, lá íamos nós pela estradinha afora, rindo, conversando e matando a saudade. Quando chegávamos, íamos logo adentrando a porta e lá estava ele; o fogão à lenha, aceso e com o bule de café quentinho nos esperando. Que delícia! A noitinha quando meu avô chegava da roça, começava tudo de novo. Beijos, abraços... Parecia não haver limites para nada, principalmente para a comilança, pois minha avó já se encontrava no fogão, mexendo as panelas para preparar o jantar. Lembro de meu avô reunindo os netos na cozinha após o jantar, e, sentado na taipa do fogão, contava histórias do saci, da mula-sem-cabeça e das assombrações que assustavam os cavalos no pasto e nas estradas. Ficávamos de olhos arregalados e morrendo de medo, mas não queríamos que parasse de contar. Quando íamos para a cama, demorávamos para pegar no sono, porque além do medo ficávamos comentando sobre as histórias. Mas por fim, o cansaço era tanto que caíamos em sono profundo. No dia seguinte ainda era noite quando no quarto sem forro, ouvia minha avó sussurrar em oração as contas do rosário. Não demorava muito para que o quarto fosse invadido pela fumaça do fogão à lenha sendo aceso. Em seguida o perfume das guloseimas: pão, biscoito, bolo, rosquinhas, que minha avó preparava, chegava e nos incentivava a levantar. Íamos correndo para o curral, onde meu avô ordenhava as vacas, cada um com sua canequinha. O leite era tão fresquinho que até saía fumaça. Voltávamos para a cozinha, o café estava pronto e como era bom aquele cafezinho com leite. A gente se sentia tão protegida e feliz com coisas tão simples. Sentia, no ambiente familiar, realmente um clima de amor uns pelos outros, que transbordava e nos enchia de felicidade o coração. Quantas histórias poderia ainda contar. Enquanto escrevo, recordo várias experiências fantásticas da época de criança e fico feliz por ter tido uma infância tão boa. Hoje meus avós são falecidos. Estão com certeza no plano espiritual, contando seus “causos” e felizes por nos terem dado tanto prazer e amor. Com muito amor e saudade, eles continuam vivos em minha memória e em meu coração. Por fim, ai que saudade que me dá de minha avó Augusta Balbina e de meu avô João Sergino. Sueli Finco Silva

6ª SÉRIE A

O engano Meu marido José Carlos é motorista de caminhão, agora ele trabalha com caminhão de gás. Mas há uns dez anos ele trabalhava em loja de móveis. Ele sempre me conta algumas coisas que acontecem com ele. Eu me lembro que uma vez o caminhão ficou atolado lá no Rio Grande da Serra. Ele e o ajudante passaram a noite no caminhão. Quando ele chegou em casa, estava todo sujo de lama. Mas a história mais engraçada que eu acho é que um dia ele tinha de fazer uma entrega lá no Rio Grande, e já estava noite, ele não estava conseguindo achar o número da casa. Então ele viu um vulto é perguntou: - Senhora, sabe aonde mora a dona Mariana? O vulto balançou a cabeça que não, ele agradeceu. Meu irmão Paulo estava com ele e falou: - Zé, você está perguntando para um cavalo. Na hora ele ficou nervoso, mas depois os dois riram muito. Ele falou que o cavalo parecia uma pessoa, porque o corpo estava do lado de dentro da cerca, a cabeça para fora e a crina do cavalo parecia o cabelo. Paulo deu muita risada dele, e até hoje, quando nós lembramos, rimos muito. Elena Geni Martins
Flor de um jardim Quando eu vivia lá no sertão de Pernambuco, conheci uma garota que se chamava Edna. Só que os pais dela nunca aceitaram que nós namorássemos. Mas vivíamos sempre nos encontrando. O nosso namoro era por debaixo de pé de caju, pé de manga, ou quando íamos tirar ração para gados. Isso quando nós tínhamos 17 anos. Só que minha mãe sempre dizia que ela era muito estranha, não prestava. Mas quem falou que eu queria acreditar. Chegou o dia de vir para São Paulo, fui me despedir dela. Ela chorou muito e pediu para que eu nunca a esquecesse. Realmente sempre escrevia para ela e ela para mim. Mas um dia chegou uma carta que terminava tudo, explicando que a aquela distância não dava. Eu não pude fazer nada, deixei para lá e procurei esquecê-la. Quando comecei a trabalhar, no meu primeiro pagamento comprei um violão. Eu só tinha visto na televisão ou em revista, não sabia nem pra onde ia aquilo. Como morava na casa de minha irmã, ela falou que eu não tinha o que fazer do dinheiro. Um dia de tanto bater nas cordas do violão, mesmo sem nunca ter ido à escola de música, comecei a aprender a tocar um pouco, colocando em prática músicas que fazia nas madrugadas. Na maioria das músicas, eu só me referia à Edinha, como a chamava. Mas nas músicas nunca sequer eu falava no nome dela, sempre colocava alguma coisa em seu lugar para que ninguém desconfiasse que era para ela. Nessa época ela já tinha arranjado alguém e seus pais tinham a colocado para fora de casa. Virou uma mulher da vida. Era muito sofrida, não tinha nada e nem onde morar. Eu compus uma música que se chamava Flor de um jardim. Essa era a cara dela. Falava mais ou menos assim: Já foste flor de um jardim Que a natureza brotou. Foste rosa em botão Resplandecida de amor. Essa rosa murchando, A mesma rosa secou. Foste perdendo a beleza, ô mulher, Foste perdendo o valor. Vives no mundo zombando, Vives pagando pecado em dor, Vives chamando de bem, Mas no coração não tem Esse tão lindo amor. O teu coração é manchado, Com tanto pecado, Não ama ninguém. E hoje é infeliz, mulher, Só és o que quer, Chamar todos de bem. Antonio A. da Silva
O miado do gato Tinha aproximadamente sete anos de idade quando meu pai e meu tio Zezinho pegaram um saco de estopa e colocaram uma ninhada de gatos dentro e levaram para um matagal. Fiquei muito curiosa para saber o que aconteceria. Prestando atenção, logo comecei a ouvir os miados, e por muito tempo ficou este barulho, estava apavorada e muito angustiada. Ao passar do tempo, percebi que este episódio me trouxe um trauma. Sem entender comecei a me esquivar de gatos. Não conseguia ficar próxima de nenhum gato e nem ouvir miado. Causava-me pânico, esquentava os meus ouvidos e algumas vezes não saía do lugar. Uma noite chegando em casa, muito cansada, fui fazer uma oração e me deitar. Fechando as janelas e a porta, continuei a fazer a oração. Então deitando, percebi que não estava só. O que eu tanto temia, sobreveio: havia um gato na minha cama, que horror! Ele miava muito e em desespero dei um pulo da cama. Sem ninguém para espantar aquele bicho, não sabia o que fazer. Chorando muito, me tranquei no banheiro. Fiquei lá por um bom tempo, pensando no que faria. Veio-me à mente ligar para alguém, porque, no outro dia, teria de trabalhar e não conseguia entrar no quarto. Liguei para uma amiga muito especial, e, contando o que havia acontecido, ela começou a me acalmar e me encorajar. Ela me falou: - Você tem de enfrentar isso. Vai, abre as janelas e a porta para ele sair, pois ele está mais apavorado que você. Com muito medo resolvi fazer o que ela disse. Também coloquei comida na janela para ele sair logo. Voltei para o banheiro, passou um tempo, quando não ouvi mais barulho, saí e, com um cabo de vassoura, revirei a casa toda para saber se realmente tinha ido embora. Confirmando isso, fechei novamente a casa. Aquela noite foi longa, mas passou, sei que não quero mais passar por aquilo. Com esse acontecimento, aprendi a enfrentar meus medos. Ainda não gosto de gatos, mas não corro desesperada. Lucilene de Fátima Lima
Meu passado Quando era criança, vivia em um mundo livre como pássaro. As brincadeiras eram suaves, sem maldade: pega-pega, estilingue, bola. Que tempo feliz! Passado é uma palavra forte, que deixa saudade, pois dela fica algo que não podemos trazer para o mundo de hoje. Inocência!!! Ser criança, voltar o tempo e lembrar as brincadeiras que fazíamos na escola, o estudo, as surras que tomávamos, as gargalhadas que dávamos. Algo que marcou muito quando criança foi ver meu pai chorar por não ter condições de nos manter na escola. Como tínhamos de atravessar o rio, era necessário pagar o moço que nos levava de barco. Naquele tempo as coisas eram mais difíceis. Nossa diversão era ir para a roça. Depois de ajudar papai, nós corríamos para buscar mandioca que o moço dava. Muitas vezes era a janta e o café da manhã para meus irmãos e para mim. Hoje ensino para meus filhos: inocência do passado com cultura do presente. Estudo na vida de uma pessoa é tudo!!! Israel José dos Santos
Eu e a cidade de São Paulo Vou contar aqui como São Paulo mudou a minha vida, mas primeiro vou contar como tudo começou e tudo começou numa pequena cidade de Minas Gerais. Lá nasci, cresci, vivi uma boa parte da minha vida. Quando eu tinha uns quinze anos, vim aqui em São Paulo passear. Minha irmã teve neném e me trouxe para ficar com ela durante um mês, até que passasse a dieta e ela pudesse fazer todo o serviço de casa. Eu chorava todos os dias com saudades da minha família, meus amigos, enfim da vida sossegada que eu tinha lá. Quando fui embora, falei “nunca mais quero voltar em São Paulo, aqui não é lugar para morar”. Aos vinte anos me casei com um rapaz que era nosso vizinho em Minas Gerais, nossa vida lá era muito sofrida. O que ele ganhava mal dava para a gente comer. Quando tive o meu primeiro filho, as coisas ficaram mais difíceis. Meu irmão, que morava aqui em São Paulo, ficou com pena de mim e do meu marido devido à vida sofrida que estávamos levando. Meu marido conseguiu arrumar serviço na firma aonde meu irmão trabalhava, e aí viemos morar em São Paulo. Meu irmão cedeu para a gente dói cômodos que ele tinha nos fundos da casa dele. Os vizinhos foram muitos bons conosco. Ganhamos cama, fogão, geladeira e, aos poucos, conseguimos montar nossa casinha. Com o primeiro pagamento do meu marido pudemos comprar roupas para nós e para nosso filho que estava em fase de crescimento e por isso quase não tinha roupa. Pude ir no mercado e fazer uma despesa boa. Comprei e comi coisas que antes eu só ia ao mercado e ficava admirando com vontade de comer. Aqui também tratei da minha saúde, fiz vários exames, cuidei dos meus dentes. Meu filho que era bem fraquinho começou a tratar com pediatra e rapidinho foi ganhando peso. Tudo na minha vida mudou muito e graças a Deus para melhor. Aqui tive meu segundo filho e tudo foi diferente, pois não passei aquelas dificuldades de quando eu tive meu primeiro filho em Minas. Vinte anos se passaram e posso dizer que sou feliz. Eu aprendi a amar São Paulo. Claro que eu não esqueço minha terra natal, que é Minas Gerais, mas tenho o maior orgulho em dizer que São Paulo faz parte da minha vida. Encerro esta história dizendo que a gente nunca deve desistir dos nossos sonhos e objetivos. Seja perseverante e tudo se consegue porque Deus está sempre conosco e Ele nunca irá nos abandonar. Marlize Fernandes Elias

6ª SÉRIE C

Minha casa Um acontecimento que marcou minha vida foi a construção da minha casa. Foram momentos de muita dificuldade, mas também de muita alegria. Alegria porque passávamos todos os nossos finais de semana juntos. Lembro-me dos meus dois irmãos ajudando na construção. Eu só tenho dois irmãos, que amo muito, hoje já são casados e quase não os vejo. Por isso me lembro deles na construção da minha casa com saudades do tempo em que éramos unidos e felizes. Era com prazer que eu cozinhava, ajudava a carregar bloco, areia e pedra. Meus filhos corriam por todo o terreno, pulando na areia que era onde eles mais gostavam de brincar. Lembro-me de que um dia, meu esposo disse para o meu irmão: - olha, você começa esta parede, deixando a entrada das portas e janelas. Quando chegou no final do dia, meu irmão tinha esquecido de deixar a entrada das portas e janelas. Foram momentos de muitas risadas. Teve de desmanchar tudo e fazer de novo. O trabalho era muito cansativo, mas compensador no final do dia. Hoje meus filhos já crescidos, meus irmãos casados e a minha casa construída. Lembro-me com saudades daqueles dias de muito trabalho, mas também de alegria. Dias em que participei do crescimento dos meus filhos, brincando em volta do terreno e da vida dos meus dois irmãos. Eu moro na mesma casa, gosto muito dela. Ela tem portas e janelas. Sirlei da Silva Barreto Carmo
A separação de meus pais Lembro-me de que, quando tinha onze anos, o meu pai saiu de casa e foi morar com uma mulher que ele já se relacionava há alguns tempos fora do casamento. Éramos eu, minhas duas irmãs mais novas e minha mãe. Foi muito triste e difícil pois minha mãe não trabalhava fora e o meu pai não queria ajudá-la com nada. Eu, vendo aquela situação, minhas irmãs sem ter o que comer, juntei-me com uma amiga e fui catar papelão e sucatas para vender. O dinheiro que ganhei dei para minha mãe comprar alimentos para todos nós. Quando completei doze anos, minha vizinha, vendo o nosso sofrimento, arrumou um emprego para mim na casa de uma família que ela conhecia e que já havia trabalhado antes. Foi aí que comecei a ganhar um salário, baixo mas fixo, todo mês eu recebia e dava todo o dinheiro na mão da minha mãe. Logo após, minha mãe começou a lavar e passar roupa para fora, juntou a renda dela com o meu salário e a situação começou a melhorar. Assim que completei dezesseis anos, minha irmã, que morava em São Paulo há quatro anos, veio nos visitar e pediu a minha mãe para me levar para a casa dela. Minha mãe deixou. Eu fiquei muito feliz e ao mesmo tempo triste por ter de deixá-la. Chegando a São Paulo, depois de um tempo, saí da casa dela e fui trabalhar na casa da nossa vizinha. Eu cuidava do filho dela e recebia um pequeno ordenado por mês. Eu separava um pouco e mandava para minha mãe. Continuo a ajudá-la sempre que posso até hoje. Maria Betânia Pereira de Araújo
Natália O dia que não consigo tirar da minha memória foi quando eu peguei o resultado do exame de gravidez e o resultado deu positivo. Foi o dia mais feliz da minha vida, fiquei tão feliz que logo em seguida liguei para o meu marido. Fechei a porta do box onde eu trabalhava, vendendo sapato e fui para a casa dos meus pais. Falei para todos que também ficaram felizes. Passaram uns meses, fiquei muito barriguda. Quando completaram nove meses, fui para o hospital pensando que naquele dia eu iria ganhar. Mas não ganhei. Voltei uma semana depois, numa sexta-feira, sem nenhuma dor. Fiquei, tomei soro e a dor não veio. Tive de fazer cesariana. A Natália veio ao mundo no dia 27 de abril de 1998, numa sexta-feira, às cinco horas. Foi o dia mais lindo da minha vida. Graças a Deus correu tudo bem. Também guardo na minha memória o dia em que ela completou sete anos. Fizemos para ela uma festa com os personagens da Barbie. Ela se vestiu com a roupa da Barbie. Ficou linda. Foi bom sabermos que conseguimos fazê-la feliz. Depois deste dia, no domingo a gente foi para o playcenter. Foi muito divertido. Andei até na montanha russa, aquela que volta para trás. Tenho medo de altura mas neste dia a Natália conseguiu me conquistar e fui. Pensei que ia passar mal, quando cheguei lá em cima, fiquei com medo e pensei logo na Natália. Se eu estava com medo, imagine ela. Peguei na mão dela com força e pensei: “Seja o que Deus quiser”. Quando chegamos, olhei para o rosto dela. Ela estava rindo de mim porque eu estava vermelha e com medo. Ela nem ligou, achou tão gostoso que queria ir de novo. Graças a Deus não aconteceu nada. Voltamos para casa dez horas da noite e foi tudo bem. Roseli Cavalcante
O nascimento do meu filho Quando meu filho Gabriel nasceu, para mim, foi uma grande surpresa. Tinha todos os exames necessários e eles mostravam meu filho sendo perfeito. Chegou o dia do nascimento que foi numa terça-feira no dia três de fevereiro de 1998, às onze horas e trinta minutos da manhã. Ele nasceu com apenas dois quilos e uma deficiência na mão esquerda, sem reversão. Eu estava totalmente despreparada, fiquei muito triste, não sabia o que fazer naquele momento a não ser chorar. De repente meu marido entrou no quarto com um buquê de flores me dando os parabéns pelo nascimento de nosso filho tão querido. Esse foi o momento que mais marcou a minha vida, porque eu fiquei sem resposta, não sabia o que falar, mas de uma única coisa eu tinha certeza: que minha vida ia mudar. Como de fato mudou muito. Aprendi muitas coisas com ele: lutar pelos meus sonhos, ser forte, assim como ele é. Hoje eu o vejo já ficando mocinho, só tenho a agradecer a Deus por tudo. Noeme Francisca da Silva
O batizado do Lucas Pais: Marcos e Rita. Igreja: Matriz de Mauá. Realizado em 06/09/1998. Eu e meu esposo fomos escolhidos para sermos padrinhos. Eu me senti a pessoa mais feliz do mundo porque ia ser madrinha de uma criança linda e fofa. Quando ele tinha quatro meses de idade fomos providenciar o batizado. Eu e a mãe dele fomos a Santo André para comprar a roupa. Escolhi um terninho branco e uma botinha branca. Ele ficou gracioso com aquela roupa. No dia do batizado, fizemos uma linda festa. Eu e meu esposo patrocinamos um almoço, convidamos os tios. Entre todos os convidados, tinha mais de quarenta pessoas. Só sei que a nossa festa ficou na história porque agradou a todos que ali estavam. Hoje meu afilhado está com onze anos. Ele é tudo para mim, não sei por que mas eu sou muito apegada a ele. Eu cuidei dele para a mãe dele trabalhar por isto este menino é tudo na minha vida. Conceição Maria da Costa
Minha vida Aos meus quatorze anos de idade, comecei a trabalhar para ajudar no sustento da minha casa. Naquele tempo só eu trabalhava para ajudar no sustento de nove pessoas, larguei estudo e só trabalhava. Meu pai era aposentado e minha mãe do lar. Com o decorrer do tempo, Deus levou a minha mãe embora, com isto o estado do meu pai foi ficando mais complicado. O meu pai também veio a falecer, só ficamos meus irmãos e eu. Continuei trabalhando. Conheci uma garota, me apaixonei por ela, namoramos, noivamos e casamos. Depois veio a nossa princesa, nossa filha linda. Vieram as dificuldades financeiras e no trabalho. Com tudo o que estava acontecendo na minha vida, me veio à mente que deveria pedir um reajuste de salário. Fui até a chefia da empresa, pedi, mas não fui atendido. Alegou-me que eu não tinha o ensino médio. Com isso fiquei na obrigação de voltar a estudar para dar uma condição melhor para a minha família e aperfeiçoar minha área profissional. Marcello Costa Batista


Lygia Fagundes Telles

RELEITURAS / 2008

Os textos que seguem são lindas narrativas que, embora muito diferentes umas das outras, cumpriram o desafio de fazer a releitura do conto As cerejas de Lygia Fagundes Telles.
Atividade proposta aos alunos do Ensino Fundamental:
6ª, 7ª e 8ª séries

A romã

A casa à beira da estrada, terra roxa, poeira no ar, clima de verão, em Goiás, tinha um ar irreal que contrastava com o verde do canavial, não fosse o rosado da romã guardada num canto do armário desgastado pela ação do tempo.
O táxi chega de repente. Tia Bárbara era elegante, lábios carnudos, rosados, roupas transparentes e decotadas, trazia um broche em forma de romã no peito, acho que era moda na Europa.
-Diamantes. Chegou Renato sorrindo, pele bronzeada, cabelos pretos, era um deles, tinha ar de superioridade. Deise queria que brincássemos, tínhamos outras coisas em mente.
Apesar de sem graça, das roupas cafonas, feitas por Lia, e cresci. De menina não tenho nada, quero viver cada etapa da vida. O amor é o valor da vida. Se não tiver amor, não é vida. Estava insegura, achei um escorpião no jardim, toquei fogo, gostaria de fazer assim com eles. Renato não me dava a mínima, só tinha olhos para tia Bárbara, sempre insinuante. Molhava os lábios com a língua, deitava na rede com o negligê preto, e o broche de romã no peito. Soltava os cabelos sedosos, que contrastava com o rosado da romã e se abanava com o leque japonês.
No jantar, tia Bárbara reclamou do calor, quase não comeu, logo se desculpou:
- Vou subir, estou com dor de cabeça, não gosto desse calor. Renato logo subiu, dizendo que ia dormir cedo, porque queria cavalgar pela manhã. Ele montava muito bem.

Fomos para a sala e, mal começamos a jogar dominó, houve um clarão e apagou a luz.
- Acho que queimou o fusível. Luana, - disse Deise -leve as velas pra tia Bárbara e não esqueça os fósforos.
Subi as escadas em meio ao clarão dos raios, de repente a porta se abriu pelo vento forte que fazia no corredor e vi dois corpos azuis rolando na cama, pra lá e pra cá, entrelaçados feitos as sementes da romã do broche de ta Bárbara. Senti as lágrimas rolando na face, a casa girando pra lá e pra cá, como os corpos entrelaçados, como o rosado da romã.
Não sei quantos dias passei no torpor entre a inconsciência e a realidade. No delírio via as chamas vermelhas, o escorpião girando, girando, o calor das mãos de Renato em mim, gostaria de dizer alguma coisa, mas não entendia o que falava.
Logo pela manhã, fiquei sabendo que ele fora embora. Eu sempre soube que seria assim. Tia Bárbara veio despedir-se:
-Ah! Vejo que já está boazinha. Não vou beijá-la, não quero pegar caxumba! Prendi a respiração para não sentir o seu perfume. Ela queria me dar o broche, eu disse:
- Obrigada, fica melhor em você e também não gosto de romã.
Tempos depois, recebemos a notícia da morte de Renato. Coitado, caiu do cavalo. Deise continuou às voltas com o crochê. Ah! E achou os óculos. Um dia desses me segredou que ficava excitada ao ver Renato cavalgando em pelo nas noites quentes de Goiás. Anjinho cego, heim?
Já faz tanto tempo, será que essas pessoas existiram?

Catarina Rodrigues da Silva - 6ª A

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Mandruvá

Tudo começou há quase quatro décadas. Morávamos em uma cidade pequena chamada Nova Olímpia no Estado do Paraná. Morávamos em um sítio, nossa agricultura era mamona, algodão, café e soja. No sítio havia um rio onde pegávamos água para beber e para o uso doméstico e também para dar aos animais, como os cavalos, porcos e aves. Éramos em sete pessoas: o pai, a mãe e cinco irmãos. O pai, meu irmão e minha irmã iam cedo para a roça e eu ficava para ajudar na lida da casa, até na hora do almoço. A mãe, os dois irmãos caçulas e eu íamos também, já levando o almoço e a água fresca na moringa para eles. Quando começávamos a andar pela estrada, eu já ficava inquieta, sé de imaginar que tinha de aguentar até a noitinha, quando eles parassem de trabalhar. Era como se eu já estivesse lá. O meu medo era tanto que eu andava com cuidado para não relar em nenhuma folha de mamona. Eu imaginava aqueles mandruvás em mim. Eles eram muito feios, eram grandes, gordos e horríveis. Na época, as mulheres falavam que o mandruvá assobiava para as meninas e moças e, quando isso acontecia, a moça ficava grávida de muitos mandruvás. Elas também falavam que quando as moças estavam menstruadas, os mandruvás colavam na pele da gente e a gente nem sentia. Quando meus irmãos dormiam, minha mãe mandava eu ajudar na colheita. Amarrávamos um balaio ou cesto na cintura. Então, fui debaixo dos pés de mamona, para colher os cachos. "Estão bem secas,então, vou acabar mais rápido", pensei comigo. É que o pé de mamona é o que tem mais lagartas ou mandruvás. Fui puxando o ponteiro para pegar o cacho, quando puxei um pé bem mais alto que eu, ao soltá-lo, com o balanço do galho, caíram dois mandruvás em mim. Um caiu na minha perna, perto do joelho, eu comecei a pular e gritar. - Mãe! Mãe! A mãe veio me ajudar. O mandruvá agarrou-se no pano e não caía e eu pulando e balançando as pernas, nem sabia que tinha outro nos meus cabelos e que caminhava em minha cabeça. Eu gritava: - Mãe! Tira! Tira! Ela falava para eu ficar quieta, queria que eu parasse de pular para ela tirar o que estava no cabelo. Foi quando senti um peso perto das sobrancelhas, como se estivesse escorregando para baixo, nessa hora a mãe gritou: - Fica quieta! É um mandruvá, ele vai cair na sua cara! Imagine o meu desespero, quase desmaiei de tanto medo que passei. Minha irmã ficava fazendo graça, fazendo rolinhos de folhas verdes e jogando em mim gritando: - Olha o bigato em você! Eu assustada, começava a gritar. Antes de dormir, minha mãe tinha de chacoalhar o lençol e mostrar-me que não tinha nada lá. Hoje não tenho medo, só sinto uma gastura quando vejo esses bichos molengos se mexendo.

Maria Aparecida Munhoz Cardoso - 7ª A

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Os burros vão e voltam

Tio Gumercindo adorava sair para dançar. Todos os finais de semana, ia para acidade um pouco distante de sua casa, dançava toda a noite num dos bailes que lá acontecia. Quando ele chegava, seus colegas logo diziam: -Chegou tio Gumercindo, o melhor dançarino da noite. E ele dançava com todas as damas que encontrava no salão. Foi depois de um desses bailes, quando ele voltava muito cansado, pois dançar a noite toda com todas as damas não é fácil, não é? Tio Gumercindo perdera as companhias com as quais voltava para casa, ele teria de andar vários quilômetros de distância, pois não tinha nenhum meio de transporte. Depois de muitos passos percorridos por aquela estrada tão deserta, ele avistou um burrinho que ali pastava. Aproximou- -se do animal, percebeu que era manso, não pensou duas vezes, pegou uma carona no lombo do animal. -Que maravilha! Não vou precisar voltar pra casa andando - disse tio Gumercindo. O burrinho marchava, marchava, parecia conhecer o caminho. Foram muitos quilômetros percorridos com o homem nas costas, já estavam quase chegando, quando o animal assustou--se com alguma coisa que fez barulho à beira do caminho, então, ele começou a galopar, porém, em sentido contrário, voltando à cidade. Tio Gumercindo ficou assustado, começou a dizer: -Psiu,psiu! E repetiu por várias vezes, mas nada adiantava, quando o burro resolveu parar, já tinham retornado ao local de onde partiram. Tio Gumercindo, muito furioso, não teve outra escolha, voltou a pé, deixando o burro no mesmo lugar a pastar.

Adnilson Hibner Lázaro - 7ªA

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As uvas

Eu era tão pequena que às vezes me parece que tudo foi um sonho e que as pessoas eu jamais conheci. Na década de 20 em meio ao glamour da época, eu era apenas uma menina que se atraía pelo perigo. Em nossa casa no interior de São Paulo tudo era calmo, a não ser no domingo quando o tio levava Susan e eu para as regatas de barcos. Foi em meio a uma regata empolgante, que Alexandre chegou despertando olhares. O tio apresentou Alexendre como nosso primo do Rio de Janeiro. Ele era diferente, refinado e com ar de galã. Ao chegarmos em casa, para nossa surpresa, ele ia ficar conosco. O tio foi apresentá-lo ao resto da família. Eu confessei a Susan que ele me encantou. Ela nem me deu atenção e, calma, retirava seu broche de uvas que havia herdado de sua mãe que já falecera. Depois disso ela e o tio vieram morar em nossa casa. Alexandre era tão aventureiro e destemido e sabia envolver as pessoas. O tio dizia que por isso ele se envolveu em confusão e teve de vir para São Paulo. Eu não sei como, mas, sem perceber, me envolvi com Alexandre. Susan me recriminava, dizendo que, quando o tio descobrisse, ia dar a maior confusão, mas o que eu podia fazer, ele me fascinava. Eu e Alexandre saíamos esscondidos e Susan sempre nos ajudava. O tio começou a desconfiar de nossas desculpas esfarrapadas, ficou mais difícil de nós sairmos. Susan sempre ia ao jóquei, pois isso a fazia se lembrar da mãe, às vezes, era tão irritante que acho que só quem a suportava eram suas uvas. Alexandre era muito misterioso, às vezes, sumia sem que percebêssemos. No sábado pela manhã, chegou uma carta do Rio de Janeiro que deveria ser entregue urgente para Alexandre. Aproveitei para procurá-lo e descobrir para onde ia quando sumia. Procurei por Susan mas ela havia saído. Procurei por toda a cidade, até que um empregado de nossa casa disse que a viu perto do jóquei. Fui até lá, procurei por toda parte, já estva desistindo, quando me lembrei de um casebre. Olhei pela fenda do casebre e vi, para o meu desespero, Alexandre e uma menina juntos, fiquei tão atordoada que não consegui ver o rosto da menina, a não ser por um broche de uvas que estava no chão, isso a denunciou: era Susan. Cheguei em casa, entreguei a carta para o tio e disse que não encontrara Alexandre. A carta dizia que o pai de Alexandre havia falecido. Quando leu, partiu imediatamente. Ele até que tentou se despedir, mas eu fugi. Fiquei vários meses estranha com Susan, ela não sabia por que. Planejava um jeito de me vingar pela sua traição. Certa noite, levantei, peguei as suas uvas, despedacei-as e coloquei-as em frente a foto de sua mãe. Susan nunca mais foi a mesma sem as suas uvas. De Alexandre nunca mais tive notícia, dizem que ele se endireitou com o falecimento de seu pai. Eu, porém, fiquei só.

Maytê Santana de Souza - 8ªA

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As maçãs

Não sei se estes fatos realmente aconteceram. Podem ter sido apenas um sonho. Titia sempre nervosa com suas tarefas a fazer, sempre de cá para lá e de lá para cá. "Vocês não vão se banhar?" "Está na hora do jantar." Papai sempre sentado ao sofá lendo seu costumeiro jornal. "Sempre a mesma coisa, políticos que querem mostrar serviço e desfecho de novelas". Prima Lígia sempre sorridente agora com o olhar de tristeza ao ver que suas maçãs se deterioravam com o tempo. "Não me canso de olhá-las". A casa, antes em meio a um pomar lindo e viçoso, não restou mais nada. Só as maçãs. Chegou de supetão, sem nos comunicar. -É prima Lígia - disse titia! Filha do irmão de papai. Ela adorava plantações, principalmente pomares. Ali não havia mais nada além de maçãs, tudo que ela mais desejava e admirava. -Resolvi ficar, não quero outra coisa para a minha vida - disse prima Lígia à titia. Até que certo dia veio uma onda de pragas, não ficou uma só folha no lugar. -Foi uma desgraça - disse titia a papai. -Nunca imaginei que Lígia gostasse tanto desse pomar. -Quem poderia imaginar que isso a traria tanto desgosto. Os tempos ruins passaram, o pomar voltou a florescer e lá estavam novamente elas: as maçãs. Lindas, brilhantes e vermelhas como nunca se havia visto antes. -Pena que Lígia não está aqui para ver tamanha beleza - disse papai. -Mas sei que nunca esqueceremos dela pois o pomar está lindo como jamais ninguém veria outro - falei a papai. E assim se repetiu ano após ano: lindas maçãs, talvez as mais belas do mundo.

Andréia Guimarães - 8ªA

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A boneca

Quando eu era criança de sete a oito anos de idade, adorava brincar de boneca com as minhas primas porque eu não tinha brinquedos e muito menos bonecas. O meu pai era jardineiro mas há quatro anos estava desempregado. Era natal e eu pedi uma boneca para minha mãe. Ela, muito triste, falou: -Filha, me desculpe, mas não temos dinheiro nem mesmo para comprar o que comer, por isso ainda não podemos comprar a sua boneca. Mas, quando seu pai arrumar trabalho, quem sabe... Os meus olhos se encheram de lágrimas pois se passava mais um natal sem minha boneca. Um certo dia o meu pai saiu para procurar emprego e me convidou para ir com ele. Estávamos passando em frente a uma casa muito grande e bonita, foi aí que vimos sair dessa linda casa uma senhora e uma criança mais ou menos de minha idade com uma caixa cheia de brinquedos provavelmente quebrados. Chegamos mais próximos e meu pai perguntou à mulher: -Senhora, esses brinquedos vão ser jogados fora? A senhora, muito educada, disse: -Sim! Pois minha filha enjoou dos brinquedos e vamos comprar todos novos. Meu pai perguntou: -Posso levar para minha filha, pois estou desempregado e mal posso comprar arroz e feijão para comer. A bondosa mulher perguntou para ele: -Qual é a sua profissão? Ele respondeu: -Jardineiro. Ela chamou o meu pai, deu-lhe alimentos, roupas e ainda lhe deu emprego na linda casa. Quando cheguei em casa com a caixa de brinquedos, tirei todos. Quando de repente já no final encontrei uma boneca, a emoção fez meu coração pular e meus olhos choraram de alegria, pois eu tinha encontrado a minha tão sonhada boneca no meio de tantos brinquedos. Hoje eu tenho 22 anos, sou professora, casei e tenho uma filha de quatro aninhos e o brinquedo preferido dela é a minha boneca que se chama Vitória. Quanto a minhas primas que brincavam comigo de boneca, hoje são todas bem de vida como sempre, mas nenhuma delas tiveram uma boneca tão especial quanto a minha. Ah! A minha filha também se chama Vitória em homenagem a minha boneca.

Maria Amorim Pena - 7ªA


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